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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Lúcifer

Melhor que os demais
ele viu em si uma beleza sem igual
sua superioridade tornou-se-lhe a única verdade,
e ela trasbordava em todos os seus angelicais sentidos,
sua glória escorria em oratória e sua voz fluía como a um rio bravio.

A muitos outros reuniu
e reuni,
com o mesmo discurso vil
o paladino da superioridade arrasta rica parte da humanidade
nas tortuosas sendas que lhe abrem nos campos e nas cidades.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Neith

Ao longe o sol,
alado em luz,
a conduzir
o ovo
que em ti luz.

Na ideia se afina
o etéreo construto
de buscar a genuína,
senda do absoluto.

A riqueza se finda
na algibeira perdida
sob o sete que se aplaca
com terra viva.

Foi se o tempo de esquecer
o que no peito tini.
Aos ouvidos do mundo
não há pensamento mudo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Passareio

Num proseio de tinta
pássara do dia,
em conversa distinta,
dobrada e carregada por quem voaria.

Tornou-se um fragmento,
um pedaço de ser
que se passarinha por pensamento,
quase mais não sendo, por querer.

Mas justo assim,
se deu por dizer
na planura do branco,
negros caracteres de livre querer-pássaro.

E ao azul do céu,
borrões de aves
nos arrancou d'alma
humana e abstrata asa.
 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

É bem...

Subia a míngua
Fernando Correa da Costa acima,
arvore não mais havia,
e o desenredo era um trem que vinha
em contrapartida aos doirados aluviões,
rebentos desse sol que vos luz,
translúcido, luzido, lucido.

Mas para além do engano,
se arquitetam o desengano,
a cartolada final
sobre a natureza
do peito matagal.

O arremate
fatal
o desgaste da esperança
daqueles que crê na fala perversa,
na polida conversa
dos que administram a predação dessas terras.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Num quarteto de cordas

São nove horas
e um momento de catarse,
onde meu coração se dilui
e flui como um rio
de sanguíneos sentimentos.

Nesse mesmo instante,
meu espírito se coisifica
em uma gélida percepção,
que se petrifica.

sábado, 8 de agosto de 2015

Um pingo de pulso

Amor não se pode agarrar.                       na firme arvore que se nutre
É abstrato fruto que dá                             no etéreo soldo do caminhar.


terça-feira, 28 de julho de 2015

Reminiscente

Tangia a luz em verde mar,
e sob a abóbada celeste
o vento era a distração ao velejar.

O macio abarcava a dureza do casco
que deslizava na segurança do imenso espacio
que se impunha sem se dar por resistência, às duras penas
que ali plainava, na dourada áurea dos homens em ressaca.

Para popa, o eterno Lácio,
partido agora em mundos lábios,
lusos de Eros e Tânatos.
Para o novo lado,
uma proa fado,
do macio cantar de Tupã's alados.



sexta-feira, 26 de junho de 2015

Passa tempo

O nascente sol de uns
é o poente sol de outros,
a história muda
pra começar algo de novo.

Transcorrido um velho intento,
na laboriosa via da terra,
o correr do tempo
a tudo enterra.

Mas o canto é passado,
de galho em galho,
pássaro a pássaro,
nos primeiros e nos últimos raios.

Somos a mesma respiração,
do primeiro som de sol a estalar
no mato a antiga canção,
de vento iluminado no dourado a verdejar.

A pestana protege o globo do teu olhar.
O globo te livra do infinito negrume do ar,
e a luz em tua memória
não te deixa temer ausente aurora.

Pouca gente lembra
do porque crê
que o sol,
irá reaparecer.

O pássaro não tem tanta certeza,
por isso canta quando a luz chega,
canta quando ela se vai, como se se pusesse a lamentar
dizendo, que amanhã irá melhorar.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Rio das dores

O rio está lá
mesmo que por ele
nada se dá.

Por mais que a selvageria das cidades o estrangule,
por mais que o atraso das sociedades por onde ele passe
o transforme na extensão de uma existência lixo,
ele continua gentilmente a banhar os corpos, a cozer o presente.

O mesmo rio que durante séculos vem sendo expropriado de suas areias
cotidianamente lavadas em seus milenares milésimos de fluidez,
para que se ergam a aparência urbana da sofisticação falaciosa,
não ganhou o devido respeito de redes integrais de tratamento.

E a imundície humana se introjeta em sua águas, 
como vírus mortífero, destroçando seus leitos, sua clareza,  
seu 'quê' de aquário.
De forma voraz, em nome do progresso de uns poucos latifundiários,
de alguns industriários e de uma letárgica massa alienada em sê-lós,
morre o rio, pela via vil dos projetos da administração pública,
dos desvios de fluxo, da exploração dessas terras, daquelas gentes, desses rios,
das fontes que se esgotam na comunhão corrupta estabelecida por aqui 
sob a mascara do estado truculento que somos nós.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Despido

O tempo se foi
na velocidade da bala
com a qual o matei.

Fiquei ao largo,
sem horas pra contar
os causos do espaço.

E todo o estardalhaço,
da poeira cósmica
ficará imóvel,

deitada sobre o sólido,
que agora é pó,
e voa vagamente, pela vaga mente.

E a escuridão
tornara-se um tic-tac quebrado.
Onde mais não brandem, os vermes da fome.?

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Lua de Cheshire

Lá no alto uma velha esfera
dependurada feito quimera,
de coisa que é nova
mesmo sendo tão velha.

Aquele chão, de prata que flutua,
as vezes reflete toda, as vezes parte alguma,
da luz que ultrapassa no espaço a curva.

Lua velha,
tão nova
quanto bela.

Pudera eu
ir tirar uma cesta
na rede que armas,
brilhante na treva.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Macromitomatizada

Para pincelar a realidade árida,
o sugo-palavra,
que da língua é pedra minerada,
num garimpar em abstrata lavra.

Na relva das ideias,
a existência concreta
é animal visceroso.

O que o homem enjaula?
O que enjaula o homem?
Disso sai o civilizado, do duo enjaulo.

As armas não seriam "civilizadas"
se sua função fosse apenas presa-caça.
A função civilizadora da arma
reside na função presa-homem-escrava.



domingo, 10 de maio de 2015

Apocalíptico

No silêncio de um rio
secam o murmúrio dos ventos
e no vazio do mar,    
numa pequena barca,
se esturricam os ossos do esquecimento.

Não há sol que disfarce a palidez da morte,
e nos grãos de areia,
a  história é poeira
que se debruça em cinzas.




quarta-feira, 29 de abril de 2015

Sonho

Um fragmento de luz
numa fotografia.
O prendi,
por noites e dias.
E esse feixe ainda se fez presente,
num longo rastro cognoscente.
Sonhei que ela, a luz da foto, me arrastava
para o subconsciente,
e que como uma vela me mostrava,
monstros e serpentes.
Quiz ela me arrastar mais ao fundo,
e me vi num labirinto
cercados por paredes,
de um lado essa parede era meu pai,
do outro ela tinha os aspectos de minha mãe,
era fresca como uma pera,
daí rasguei a fotografia, a luz virou pó
e eu morri acordando-me.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Outono índio...abril despedaçado.

Deus vivia nu
a bronzear-se nas praieiras terras do sul.
Proseava com toda gente,
bororos, guaicurus...

E sem maldade,
todo o povo lhe comunicava,
de seus banhos, ritos e caças.

Um dia Ele partiu.
Disse que ia amansar outros povos,
e sumiu.

Após longo tempo passado,
se descobriu que Ele fora crucifixado
por homens letrados, assaz sofisticados.

E nas florestas do sul,
esse conto ainda ecoa.
E Urutau, em seu minarete de pau,
é quem o entoa.



domingo, 19 de abril de 2015

Observando flores

Pode uma flor tornar-se metáfora.
Pode ela ser o que desejas.
Sobretudo, o nada, dos que não a vê.

Pode a pétala ser um toldo,
a cobrir de sombra, um minúsculo besouro,
ou o alimento, de um enorme touro.

Pode uma pétala, dessa flor, ser um todo
Prenhe de sentidos indizíveis.
Pode a pétala da flor ser a guardiã, um embrulho, de fina essência.

Não sei do que se trata a cor da flor,
a depender dos olhos que toca na luz dela,
poderá se negra, branca, morena ou amarela.

Mas assim, distante das pétalas, e dos perfumes ocultos,
esse meu pensar se encerra,
no desenrolar dessa poesia, que apenas floreia.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Crepúsculo contemporâneo.

A força fôrça a fossa,
destrambelhada como outrora,
marcando no sino da ignorância
o fosco eco das panelas cheias de misérias.

Mais uma vez aquele aceno,
que espalha ao ar,
a apetitosa ignorância do veneno,              .

E as pessoas padronizadas,
tal qual os arquétipos das histórias ocidentais,
se 'esfas-falham' nas finas camadas de pinche.

Enquanto isso, no mais alto da tarde,
as partes de uma janela se fecham,
como se fossem movidas a Sol.
Esvai o dia, disso-luto em turva luz.




quinta-feira, 12 de março de 2015

Negro fado

Musa
que me acalenta e nina.
Flor de deusa,
de espirituosa mina.

Poema, pétala de poesia,
que se manifesta no respiro,
de um raro qualquer, que assunta e sinta.

Parto,
maiêutica vida,
nessa vasta e reminiscente, selva de trilhas.

Musica,
que expande a via,
ao caminhante és, alegria divina.

Flor do Lácio
que alisa negros lábios.
Vento entoado,
nas curvas que moldam, distinto fado.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Hiper'bolando

Não tenho tempo
o tempo me tem,
em infinita linha,
um ponto de desdém.

Pausa e pulso,
no meu úmido
palato recluso.

E na vírgula
desvio-me do curso.
Para riba ou derriba?

Ao certo não sei,
vou me assentar
nessa dúvida que arrumei
para alhures existir, talvez.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Caravana

Areia, muita areia
povoando o vento,
sob a luz que incendeia,
um mundo em movimento.

Que para além de incertas léguas,
onde há fontes que não secam,
se trombam homens, burros e éguas.

Guiados por estrelas e constelações,
levados por saudosas lembranças,
de antigos corações.

Nostalgia seca
Mar de vento e areia
a perder as vistas, reais miragens,
dos oásis que se brotam em milagrosos segredos.






quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Etéreo barbante...

Escrevi algumas linhas,                          na barra do horizonte,
linhas que teciam,                                   um fugaz ponto de cor.                          

Depois, ao turvar as vistas,                     e a atmosfera,                                                                         puxei toda a linha,                      que se tornou, bola de lã blue.





terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Maledicências

Numa esquina qualquer
a vida passou, a pé.
Desnuda,
solta em sua formosura.

Todos a seguiram
e lhe mendigaram
um qualquer trocadinho.

Muitos saíram, deslumbrados com o soldo recebido,
outros ficaram pelo caminho,
a matutar cruel destino.

E os descontentes com o tanto recebido,
furta d'outro o que não lhe é cabido,
e arrasta para si infâmias e desatinos,
da cobra da vida, de cobrança e não de víbora, possuidora dos camin(h)os.