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domingo, 28 de setembro de 2014

Ar morto

Sou distancia e medo de aproximar,
por isso lanço morteiros,
certeiros de nos distanciar.

Para além da cerca que te livra,
do meu farpado amor,
que só sangra, sem dor.
Mortifiquei-me na morfina,
que roubei das papoulas afegãs,
para chupar laranjas palestinas, sem sentir sabor.

E a propósito,
desejo mais um dos teus depósitos,
o meu número traduz-se nesse a-deus codificado.

Resiliência

A nota triste insiste,
em tocar
na alma a lacuna,
que a existência nos dá, por escora.

Sendo aqui ou acolá,
um timbre obscuro
se sustenta no vácuo que se estende,
e ecoa para além da razão.
Menti e chorei por isso,
e para não derreter-me,
converti-me às verdades construídas
sobre a bigorna do tempo arrasador de templos.

E sob o contínuo som que sobrevinha das pancadas,
guiei meu passo, surdo e calado,
e no labirinto,
no mais grave dos silêncios, dancei baião, de um.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Os ais de sisi

Ela nasce, desnuda,
sai das profundezas mais obtusas,
e colore o ar com musica.

Sisisisi sis de labutas,
a me tirar do pulso, que só me bate,
e para além da calçada que circunda o bosque,
me avoo em pensares orientais, quão monge em meditação.

E o meu possível nirvana é questionado pelo som dos carros,
pelo burburinho das buzinas que me apitam o passo,
sou agora um bestial descompasso a compor resultados irresolutos,
na aquarela cinza das coisas mal coloridas pelas tintas que saem das notas derretidas.

Pois não, tire essas arvores daqui, plantem carros e mais buzinas;
que fabulosa invenção seria ter de uma maquina uma sombra amiga,
um fruto que madurasse e saciasse a barriga, oh por que não o inventastes ainda?
E os sisisis distanciaram-se, estou a meio passo do esgoto central.



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Musa

Num aceno de olhos
te admiro,
lanço ao livro teu ar superior,
e num suspiro me aniquilo.

Tu és minha fantasia despida,
trocada por uma outra, usada e desadornada,
como eu, a fantasiar-te louca e decrépita.

Mas toda tolice será aturdida
pela tez do tempo, que sem cara nos é tão caro,
e que te traz aos fracos e embaraçados.

E nisso o Sol ardeu por toda a tarde
que logo de noitinha morreu
sob o velar da Lua que se empalideceu
no áureo frescor de uma manhã sem cor.