Translate

sexta-feira, 25 de julho de 2014

variando

no papel quis pôr uma coisa           embrulhei-a em palavras toscas
mas uma coisa não cabia                 pois toscas eram as intenções descritas

tentei escrever sobre algo               antes que me secasse a tinta
mas algo nada me dizia                   pois de mudez padecia

então gritei tão alto quanto podia          dei pernas a lamparina
e despedacei ao peito a vidraria            que antes brilhava ao longe.


terça-feira, 22 de julho de 2014

Encomendas

No prelo, a prazo,
uma dúzia de contos fiados.
ditos e reeditados em papeis dissimulados.

Palavras passadas, por sobre linhas dependuradas,
enfieiradas como piraputangas recém pescadas.
E o rio de águas avermelhadas verdejava.

Prosas, poesias e fadigas horizontais
no febril outono de crepúsculos rosas
que perfaziam as abóbadas dos pantanais.

E por doze léguas se cavalgava
na cacunda do asno adestrado
por entre morros e prados, levando contos encomendados.








domingo, 20 de julho de 2014

trecho escorrido

Fui tanta coisa sem coisa alguma me ser.
Como pode uma coisa ser tantas outras?
Como poderia eu ter sido uma coisa pensando ser tantas outras?
Deveras não sei, penso que sei que sou o tanto que vejo, que não sou.
E esse tanto, que sou, é tão minúsculo que muito pouco vejo, hora turva, hora disturba.
Me esforço, espremo as vistas e preciso da audição, me prendo ao sentido e esqueço a razão.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Nostálgica

Amigos vão,
desvão
encontrar-te-ei
solidão
Quimeras,
quais pontos de interrogações,
luzeiras letras
aluviões

O sol doirava a serra,
a poeira encerrava a espera,
e tu flutuou no crepúsculo,
solene
E no fundo, um pássaro cantou,
como dantes, quando aurora despontou.
Foi deveras belo e ofuscante,
poeira, sol e pássaro cantante.

Mas ainda era dor,
era sensação da memória de tudo que se avoou
para o mais intimo assento,
para esse algo que bombeia na gente
a violência de existir,
sem ter como evitar
a eminência de partir.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

questões

Há algum peso que pende para o abissal?
Há alguma vontade que pende para o irreal?
Há algum senso no decorrer do caminho para a morte?

Existe pena de ave na mente do homem que vive a voar?
Existe músculos de rãs no destino dos que morreram?
Existe um vulcão no intestino dos engolidores de espadas?

Se fossem os foguetes balas, furariam o céu?
Se a Lua murchasse, ela cairia, pra qual lado?
Se o Sol pegasse fogo, ele se consumiria?