Caldo respingado do caderno Amarelo.
Hoje sou apenas um pensamento sem causa ou genealogia, nada
desejo, senão, voltar-me por inteiro ao inicio do simples desejo de pensar-me
por via do todo que a mim se configura, em imagens, sons, e texturas, de palavras
ou coisas análogas, aos ‘EU´S’, incomensuravelmente retorcidos por fantasmas,
razões de mitos, razões de momentos sempre a mudar, e a novamente se mitificar
em palavras, imagens e...
E nesse agora, que
não é mais o hoje de outrora, meus pensamentos se desbotam, num infinito que a
nada se iguala, que não se repete em idéia ou forma. Sou um talvez, e sem razão
alguma, pelo menos uma que a mim, assim se afigura, e assim se vai, esse meu
pensar, numa ininterrupta e continua curva.
No instante, é no instante que estou sempre a fugir, do que
fui para o que posso vir a ser e nada mais, nem correria ou pausa pode me
libertar da náusea que a memória ou a imaginação me causa.
Pois a pouco, estava eu deitado sobre a cama, de costas para
o chão, lendo um ruidoso livro acerca das origens do discurso democrático,
quando, de repente, o cessar do típico som de chuva mansa me retira dos olhos a
liquidez da antiga Grécia. Então, relutantemente, me percebi sem a chuva que eu
nem, ao menos, me dava por ela enquanto chuva que caía, ou fenômeno
naturalmente necessário à existência de varias coisas que comumente se chama de
natural. Mas eu a via sim, como a quem liga um aparelho que reproduz um belo
som de banda ou orquestra a tocar, e que em outro cômodo se põe a ler e a saborear,
entre livro e musica, entre dever e chuva, o sabor de seus próprios
pensamentos, e se espanta ao perceber que a musica, há algum tempo, parou.
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