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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Bucolianópolis.

Bucolianópolis.
Blém-blém-blém, e era só, o único
som pavoroso se que escutava em Bucolianópolis, no mais era úaaaa-úaaaa,
sisisisisisisisi, cri-cri-cri, au-au-auuuuu, fiu-fiufiufiufiu, onh-onh-onh,
miau-miau, téutéutéu, tititi-tititi, e às vezes sobrevoava um avião.

E assim os habitantes de Bucolianópolis campeavam os dias que iam girando e a voltar, sem muitas
cerimônias formais, mas com muitos ritos diários, pois a cada sombra se tinha uma
nova hora, para aprontar o passo seguinte e afrouxar o suor que cristalizava a pele.

No mais os outros sons eram harmônicos entoados por rodas de pau, de passos que iam e que vinham, e que fazia as permutas de prosa e cantoria que ali todos faziam por prazer, e pouco lhes importava o assunto em questão, pois toda a razão era o olhar fixo no verbo.

Alguns que ali a muito viviam, se especializavam nos rumores dos animais, uns aéreos, outros lácteos, alguns anfíbios e ainda sobravam os aquáticos, mas os mais requisitados eram sem
dúvida os que interpretavam os extra-terraquios, que em Bucolianopolis iam.

E em certa feita, numa tardezinha de ‘extra, extra!’, espalharam-se novos verbos, para os quais todos se atentaram, e o fato espalhado, fora empreendido por uma moça tartaruga que se encantara com as rugas de um bem conhecido e galante jacaré, que já contava, com essa, a sua nona “mulher”, mas que a todos se justificava por via de sempre dizer que aquele fortunio lhe advinha de sua velha couraça, sempre bem lustrada e pronta a encantar as moças esperançosas em dividirem seu couro como herança
ultima de sua libidinosa existência em Bucolianópolis.

Como Bucolianópolis era um pântano entre duas cidades humanas, numa distancia de trinta quilômetros uma da outra, os seus moradores tinham a admiração por aqueles sons que provinha do que fosse que passasse pela via dos homens, mesmo que com certo receio, eles sempre comentavam com alegria as percepções que dali lhes vinha, e logo era tudo esquecido pelo silêncio que se fazia para assuntar o novo som que surgia no de- repente de novas sombras

                                                                Selva Rodrigues








  




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