Um botão-flor-fruto.
De tão maduro, caíra ao chão,
em debulho.
Não era a-gosto, e nem era Outubro.
Era apenas a rotação de um mundo.
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quinta-feira, 30 de junho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Ao escurecer.
Pro experimentar da lamparina, que ilumina.
De tão novinha, óleo algum lhe amaciara ainda.
Pavio sedoso, de branco brilhoso, pedia fogo.
O tempo passara, e às quatro se aproximava.E para o fim desejoso o pavio se achegava.
Joãozim se segurava, pela escuridão esperava.
Ansioso, segurando o fósforo pelo pescoço.Silencioso, sentado as escondidas, atrás do poço.
Selva Rodrigues
terça-feira, 21 de junho de 2011
Renascimento.
Na vacuidade de uma estrela morta, voava Nora.
Indecente, ranzinza e teimosa, vassourava a aurora.
Sorria, e rangia os dentes na poeira cósmica, estrela mórbida.
Um dia ela encontrou o Sol, o incandescente luzeiro das gentes.
E o quis desferir vassouradas, mas o calor, a vassoura queimou.
Nora caira, e em desgosto profundo, blasfemou até o fim dos mundos.
E num parto sem pernas, num eclipse de esferas, Sol e Lua gerava Géia.
Indecente, ranzinza e teimosa, vassourava a aurora.
Sorria, e rangia os dentes na poeira cósmica, estrela mórbida.
Um dia ela encontrou o Sol, o incandescente luzeiro das gentes.
E o quis desferir vassouradas, mas o calor, a vassoura queimou.
Nora caira, e em desgosto profundo, blasfemou até o fim dos mundos.
E o Sol ser ciente, sorriu pelo que viu, e para a Lua partiu.
Mas antes de tudo, do encontro absoluto, deu luz à Terra.E num parto sem pernas, num eclipse de esferas, Sol e Lua gerava Géia.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
De passagem.
Nas tardes ensolaradas o dia caminhava.
Nos dias de chuvaradas, as tardes se alongavam.
E nas manhas de ressaca, a noite se deitava.
Era quase o fim da espera, era um outro acordar
pra um 'talvez' recomeçar, um novamente 'despontar'.
__E assim ia Lia! Me dizia Sofia, ao crepusculo daquele dia inmemorado.
E eu, que antes a escutava, agora, para me pôr à falar, me pressionava.
E depois, de que a muito, internamente, me mormurava, a disse essas palavras:
__Vamos nos sentar, pedir um café e continuar a prosear?
Nos dias de chuvaradas, as tardes se alongavam.
E nas manhas de ressaca, a noite se deitava.
Era quase o fim da espera, era um outro acordar
pra um 'talvez' recomeçar, um novamente 'despontar'.
__E assim ia Lia! Me dizia Sofia, ao crepusculo daquele dia inmemorado.
E eu, que antes a escutava, agora, para me pôr à falar, me pressionava.
E depois, de que a muito, internamente, me mormurava, a disse essas palavras:
__Vamos nos sentar, pedir um café e continuar a prosear?
sábado, 18 de junho de 2011
Os Aconçoalhos.
As ginásticas dos panos amontoados no canto da oficina perfaziam a existência ativa de Dona Maria do Aconçoalho, uma jovem senhora que costurava para todos os que a procuravam com seus mosquetes de existências diárias, pois ali se encontrava uma agulha sempre afiada e pronta a perfazer, em linhas, o que o tempo partira.
E essa, todos diziam, era a profissão mais próxima de sua inclinação, de sua maestria em costurar a vida, pois começara a algum tempo por costurar a si mesma desde que morrerá seu fiel provedor, o sinhô Paulo Aconçoalho, oriundo das arábias e que tivera o nome refeito ao adentrar-se num leito de prosódia lusofônica, pois todos da família, da então Maria da Caixa d Água, achavam estranho o seu antigo nome, impronunciável a muita gente, algo como Al´Buriçakterà, ou algo um pouco mais estranho. O mesmo Al´Buriçakterà que morrera no dia do parto de Paulo Aconçoalho Filho, o único e derradeiro rebento dos Aconçoalhos. O mesmo fora muito bem criado por dona Maria, e logo cedo destinado a recolher as imortais aventuranças deixadas pelo velho pai como herança histórica de sua existência local, ali, nas redondezas da pacata Cercânnia, cidade inspiradora e repleta de lendas, onde viviam os Aconçoalhos.
E Filho bem sabia o ‘por que’ de ser sua mãe, a melhor costureira da região; ela fora ensinada na arte da costura pelo seu falecido pai, que aprendera de sua falecida avó paterna, e essa com um senhor persa de nome e origem desconhecida, e que havia tido existência às margens do rio Tigre, de onde não saia nem para ir ao banheiro, e era, dentre todos os que viviam ali, o melhor, um exímio criador e vendedor de bicho-da-seda, razão pela qual os mais chegados o chamavam de Seu Sedoso.
Mas a questão da inclinação de Maria era bem outra que a herança artesanal que fora repassada por via do senhor Paulo, ela lhe era, antes de tudo, um silencioso modo de passar informações ao serviço secreto, que era tão secreto que não sabemos dizer qual era realmente. Uns diziam que ela tinha um vasto conhecimento sobre cultura egípcia, o que nos levou a crer que ela era uma ramificação cultural do antigo Egito, ainda viva e a tramar os desdobramentos da cultura ocidental que muitos remetiam a Hermes Trimegisto; outros diziam ainda que dali, das linhas, ela produzia um tipo de conexão espiritual, uma conversa com seu falecido marido e toda a trama dos conhecimentos que rondavam sua arte, desde o surgimento da mesma, às beira do Tigre.
E além desses boatos, ainda se observava que dona Maria do Aconçoalho havia, na visão de alguns de seus conhecidos próximos, de Cercannia, posto algum diferencial na criação de Aconçoalho Filho, pois o mesmo era um menino muito distinto entre os demais, e, em sua face sempre se podia observar um segredo velado e, ao mesmo tempo, uma enorme satisfação em tê-lo como algo a ser guardado a sete chaves. E aquilo era demais! E suscitava uma raivosa e silenciosa curiosidade entre os de Cercannia.
Mas ele estava a aprender a arte de costurar, ou de passar códigos na visão de alguns; e, com isso, Filho também começava a entender a miraculância provocada por sua arte doméstica, e ele começava a tramar explicações por conta própria, para si apenas, pois o silenciar lhe fora muito bem ensinado por seu pai. E numa dessas tentativas de entender o velado espanto de seus conterrâneos para com seu silencioso modo de produção, ele se pôs a observar, numa de suas empreitadas explicativas, o declínio das artes privadas criadas e mantidas dentro das casas, das tendas, passando a atribuir, a isso, o enorme e crescente mercado de desejos privados sendo prematuramente difundidos em forma de imagens publicas criadas pelo simples desejo de serem públicos. E o pior de tudo isso era a aparente indústria de interesses que esse mecanismo passou a projetar nos moradores de Cercannia, ao ponto em que, os reservados Aconçoalhos passaram a ser estranhos e nocivos ao olhar público, que não os via muito, que não sabia dos meios em que se davam àquela arte de tramas.
Talvez continue...
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Mais uns pinguinhos.
" A verdade não observada, pelo seu pescoço que se virava, fora já capturada por um outro que passava"
"Num vir à luz cianes, a verdade e a mentira se fez."
"Sentei na poltrona para ler um livro sobre a historia dos sofás"
"Ao derrubar as árvores, alguém percebe que a-terra as-sombra"
"Num vir à luz cianes, a verdade e a mentira se fez."
"Sentei na poltrona para ler um livro sobre a historia dos sofás"
"Ao derrubar as árvores, alguém percebe que a-terra as-sombra"
Breviarios do Caderno Azul.
VINHO ESQUISITO => (As avessas da minha carne, a minha pele se coloca, e minhas digitais, a ti tocam.
E como se deslizasse em polvilho, te sinto no extremo superior do meu vasto fosso umbilico.
Não, não pressuponho nada,e para além da minha flutuante intenção, me permanece, apenas uma cinza sensação.
E as folhas não se desdobram, a tinta, nada de novo impinge na planície árida que permanece clara.
E em um Talvez constante, que se assemelha as vias que se esquivam em esquinas, sigo qualquer minha métrica, sem definição.
E nada sobrou, sobra ou sobrará daquilo que não chegou ao meio sináptico das conjuntivas membranas cerebrais.)
BARATO=> ( Um poço sem fundo, um labirinto obtuso, absurdo, um rastejante em meio aos monstros do sub mundo. Bicho que não tem asas, que não voa, e nem se encoraja a pular os muros do labirinto, e vive a vida toda a se rastejar.)
Por fim; INSIGHT'S=> ( Descobri que algumas das mais belas poesias estão em livros, e que inúmeras outras estão soltas por ai.)
(A fonte da criatividade é alimentada por sólidos, líquidos, gasosos e alucinógicos.)
( Num insight gritante, descobre-se o óbvio aluluiante.)
E como se deslizasse em polvilho, te sinto no extremo superior do meu vasto fosso umbilico.
Não, não pressuponho nada,e para além da minha flutuante intenção, me permanece, apenas uma cinza sensação.
E as folhas não se desdobram, a tinta, nada de novo impinge na planície árida que permanece clara.
E em um Talvez constante, que se assemelha as vias que se esquivam em esquinas, sigo qualquer minha métrica, sem definição.
E nada sobrou, sobra ou sobrará daquilo que não chegou ao meio sináptico das conjuntivas membranas cerebrais.)
BARATO=> ( Um poço sem fundo, um labirinto obtuso, absurdo, um rastejante em meio aos monstros do sub mundo. Bicho que não tem asas, que não voa, e nem se encoraja a pular os muros do labirinto, e vive a vida toda a se rastejar.)
Por fim; INSIGHT'S=> ( Descobri que algumas das mais belas poesias estão em livros, e que inúmeras outras estão soltas por ai.)
(A fonte da criatividade é alimentada por sólidos, líquidos, gasosos e alucinógicos.)
( Num insight gritante, descobre-se o óbvio aluluiante.)
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Caldo respingado do Caderno Amarelo.
Caldo respingado do caderno Amarelo.
Hoje sou apenas um pensamento sem causa ou genealogia, nada
desejo, senão, voltar-me por inteiro ao inicio do simples desejo de pensar-me
por via do todo que a mim se configura, em imagens, sons, e texturas, de palavras
ou coisas análogas, aos ‘EU´S’, incomensuravelmente retorcidos por fantasmas,
razões de mitos, razões de momentos sempre a mudar, e a novamente se mitificar
em palavras, imagens e...
E nesse agora, que
não é mais o hoje de outrora, meus pensamentos se desbotam, num infinito que a
nada se iguala, que não se repete em idéia ou forma. Sou um talvez, e sem razão
alguma, pelo menos uma que a mim, assim se afigura, e assim se vai, esse meu
pensar, numa ininterrupta e continua curva.
No instante, é no instante que estou sempre a fugir, do que
fui para o que posso vir a ser e nada mais, nem correria ou pausa pode me
libertar da náusea que a memória ou a imaginação me causa.
Pois a pouco, estava eu deitado sobre a cama, de costas para
o chão, lendo um ruidoso livro acerca das origens do discurso democrático,
quando, de repente, o cessar do típico som de chuva mansa me retira dos olhos a
liquidez da antiga Grécia. Então, relutantemente, me percebi sem a chuva que eu
nem, ao menos, me dava por ela enquanto chuva que caía, ou fenômeno
naturalmente necessário à existência de varias coisas que comumente se chama de
natural. Mas eu a via sim, como a quem liga um aparelho que reproduz um belo
som de banda ou orquestra a tocar, e que em outro cômodo se põe a ler e a saborear,
entre livro e musica, entre dever e chuva, o sabor de seus próprios
pensamentos, e se espanta ao perceber que a musica, há algum tempo, parou.
Hoje sou apenas um pensamento sem causa ou genealogia, nada
desejo, senão, voltar-me por inteiro ao inicio do simples desejo de pensar-me
por via do todo que a mim se configura, em imagens, sons, e texturas, de palavras
ou coisas análogas, aos ‘EU´S’, incomensuravelmente retorcidos por fantasmas,
razões de mitos, razões de momentos sempre a mudar, e a novamente se mitificar
em palavras, imagens e...
E nesse agora, que
não é mais o hoje de outrora, meus pensamentos se desbotam, num infinito que a
nada se iguala, que não se repete em idéia ou forma. Sou um talvez, e sem razão
alguma, pelo menos uma que a mim, assim se afigura, e assim se vai, esse meu
pensar, numa ininterrupta e continua curva.
No instante, é no instante que estou sempre a fugir, do que
fui para o que posso vir a ser e nada mais, nem correria ou pausa pode me
libertar da náusea que a memória ou a imaginação me causa.
Pois a pouco, estava eu deitado sobre a cama, de costas para
o chão, lendo um ruidoso livro acerca das origens do discurso democrático,
quando, de repente, o cessar do típico som de chuva mansa me retira dos olhos a
liquidez da antiga Grécia. Então, relutantemente, me percebi sem a chuva que eu
nem, ao menos, me dava por ela enquanto chuva que caía, ou fenômeno
naturalmente necessário à existência de varias coisas que comumente se chama de
natural. Mas eu a via sim, como a quem liga um aparelho que reproduz um belo
som de banda ou orquestra a tocar, e que em outro cômodo se põe a ler e a saborear,
entre livro e musica, entre dever e chuva, o sabor de seus próprios
pensamentos, e se espanta ao perceber que a musica, há algum tempo, parou.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Preleções imaginadas.
Ao escrever, não sei se me é possivel concluir com um minimo de maestria, pensar e escrever acerca de uma beleza qualquer, á qual me chega em rimas. E ai, nessa fadiga de querer reproduzir fenomenos em letras, (pobres caracteres, solitários e desprovidos de emoções, que de nada vale em seu ficar em solidão), e no ajuntamento delas, vou regorgitando o fenomeno que aos meus sentidos se mostraram incomunicaveis por via de algum outro modo de ajuntamentos de letras, que não as da percepção que as ajuntam rimando-as. E ai o escrever se torna uma tornearia de peças letrificas se veinculando em fluidos palavrescos de captações sensitivas, indo ao sabor de uma harmonia questionavel e admoestada pelos meus préconceitos, alguns de achar vivo coisas "mortas" e mortas, algumas coisas "vivas", e elas aceitam, pois não buscam uma ética moralista, apenas uma ética estética e invencionista.
Talvez isso continue assim por algum tempo, mas há quem pense em pontos de luzes em harmonia nas superficies, tanto do aparelho visual como dos objetos vizualizados, e que uma boa descrição provem da reemissão desses pontos de luz que adentrara antes ao cerebro...
Historias confuzas,, essas, mas o são simplesmente por serem produtos de um pensar sem ser por obrigações, sejam elas de quais tipos forem, que não as atreladas ao obrigatorio ato de pensar para ser...
Talvez isso continue assim por algum tempo, mas há quem pense em pontos de luzes em harmonia nas superficies, tanto do aparelho visual como dos objetos vizualizados, e que uma boa descrição provem da reemissão desses pontos de luz que adentrara antes ao cerebro...
Historias confuzas,, essas, mas o são simplesmente por serem produtos de um pensar sem ser por obrigações, sejam elas de quais tipos forem, que não as atreladas ao obrigatorio ato de pensar para ser...
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Despautério.
Minha mente, minha massa cefálica, minha vontade fálica.
Desfalida lida de ser sina, entre paredes e esquinas,
se vai não fostes ainda, para sei lá, qual saída.
Há busca porque há ainda clausura.
Há clausura porque não se finda a busca.
Há fim porque não se encontra sozinho.
Sempre se terá algo para os vem no depois
da gente que esteve hoje a dizer adeus.
E a dança dita o som da melodia, que alguém passou e não viu.
Desfalida lida de ser sina, entre paredes e esquinas,
se vai não fostes ainda, para sei lá, qual saída.
Há busca porque há ainda clausura.
Há clausura porque não se finda a busca.
Há fim porque não se encontra sozinho.
Sempre se terá algo para os vem no depois
da gente que esteve hoje a dizer adeus.
E a dança dita o som da melodia, que alguém passou e não viu.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Bucolianópolis.
Bucolianópolis.
Blém-blém-blém, e era só, o único
som pavoroso se que escutava em Bucolianópolis, no mais era úaaaa-úaaaa,
sisisisisisisisi, cri-cri-cri, au-au-auuuuu, fiu-fiufiufiufiu, onh-onh-onh,
miau-miau, téutéutéu, tititi-tititi, e às vezes sobrevoava um avião.
E assim os habitantes de Bucolianópolis campeavam os dias que iam girando e a voltar, sem muitas
cerimônias formais, mas com muitos ritos diários, pois a cada sombra se tinha uma
nova hora, para aprontar o passo seguinte e afrouxar o suor que cristalizava a pele.
No mais os outros sons eram harmônicos entoados por rodas de pau, de passos que iam e que vinham, e que fazia as permutas de prosa e cantoria que ali todos faziam por prazer, e pouco lhes importava o assunto em questão, pois toda a razão era o olhar fixo no verbo.
Alguns que ali a muito viviam, se especializavam nos rumores dos animais, uns aéreos, outros lácteos, alguns anfíbios e ainda sobravam os aquáticos, mas os mais requisitados eram sem
dúvida os que interpretavam os extra-terraquios, que em Bucolianopolis iam.
E em certa feita, numa tardezinha de ‘extra, extra!’, espalharam-se novos verbos, para os quais todos se atentaram, e o fato espalhado, fora empreendido por uma moça tartaruga que se encantara com as rugas de um bem conhecido e galante jacaré, que já contava, com essa, a sua nona “mulher”, mas que a todos se justificava por via de sempre dizer que aquele fortunio lhe advinha de sua velha couraça, sempre bem lustrada e pronta a encantar as moças esperançosas em dividirem seu couro como herança
ultima de sua libidinosa existência em Bucolianópolis.
Como Bucolianópolis era um pântano entre duas cidades humanas, numa distancia de trinta quilômetros uma da outra, os seus moradores tinham a admiração por aqueles sons que provinha do que fosse que passasse pela via dos homens, mesmo que com certo receio, eles sempre comentavam com alegria as percepções que dali lhes vinha, e logo era tudo esquecido pelo silêncio que se fazia para assuntar o novo som que surgia no de- repente de novas sombras
Selva Rodrigues
Blém-blém-blém, e era só, o único
som pavoroso se que escutava em Bucolianópolis, no mais era úaaaa-úaaaa,
sisisisisisisisi, cri-cri-cri, au-au-auuuuu, fiu-fiufiufiufiu, onh-onh-onh,
miau-miau, téutéutéu, tititi-tititi, e às vezes sobrevoava um avião.
E assim os habitantes de Bucolianópolis campeavam os dias que iam girando e a voltar, sem muitas
cerimônias formais, mas com muitos ritos diários, pois a cada sombra se tinha uma
nova hora, para aprontar o passo seguinte e afrouxar o suor que cristalizava a pele.
No mais os outros sons eram harmônicos entoados por rodas de pau, de passos que iam e que vinham, e que fazia as permutas de prosa e cantoria que ali todos faziam por prazer, e pouco lhes importava o assunto em questão, pois toda a razão era o olhar fixo no verbo.
Alguns que ali a muito viviam, se especializavam nos rumores dos animais, uns aéreos, outros lácteos, alguns anfíbios e ainda sobravam os aquáticos, mas os mais requisitados eram sem
dúvida os que interpretavam os extra-terraquios, que em Bucolianopolis iam.
E em certa feita, numa tardezinha de ‘extra, extra!’, espalharam-se novos verbos, para os quais todos se atentaram, e o fato espalhado, fora empreendido por uma moça tartaruga que se encantara com as rugas de um bem conhecido e galante jacaré, que já contava, com essa, a sua nona “mulher”, mas que a todos se justificava por via de sempre dizer que aquele fortunio lhe advinha de sua velha couraça, sempre bem lustrada e pronta a encantar as moças esperançosas em dividirem seu couro como herança
ultima de sua libidinosa existência em Bucolianópolis.
Como Bucolianópolis era um pântano entre duas cidades humanas, numa distancia de trinta quilômetros uma da outra, os seus moradores tinham a admiração por aqueles sons que provinha do que fosse que passasse pela via dos homens, mesmo que com certo receio, eles sempre comentavam com alegria as percepções que dali lhes vinha, e logo era tudo esquecido pelo silêncio que se fazia para assuntar o novo som que surgia no de- repente de novas sombras
Selva Rodrigues
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