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sexta-feira, 21 de junho de 2024

Tempo livro

 

O tempo está presente

Fluindo feito água antes que houvesse algas.

Está ele assim, mais etéreo que o sopro que há em mim,

Antes mesmo de oxigênio existir.

 

E pegá-lo é como pegar um trem que nos leve a qualquer coisa que nos seja como que destino, que nos dê na cabeça um ‘quê’ de dever cumprido.

 

Sinto que agarro qualquer coisa de tempo quando pego, abro e leio livros visto que nisso sinto um aceno de espírito e o que sou se dilui no que fora alguém, nesse mesmo tempo num seu destino, perto ou longínquo, que nesse instante leitura me alivia o denso tempo que estou feito jarro de sopro.

 

Quero mais tempo como coisa que pego pra destinos, meu e de quem o sentir como caldo que o sirva, saraivalhando oratória ou tinta, feito livro na vida, como tempo embebido de teoria. 

quarta-feira, 17 de março de 2021

Reminiscência de um espectador.

 

Já faz muito tempo que algo bizarro me aconteceu, talvez tenha sido até em outra vida, mas o fato foi o seguinte: numa tarde nublada saquei de uma faca e peguei um abacate maduro para degluti-lo, quando ouvi um pavoroso que vinha a certa altura e se aproximava da minha casa, que ficava de fronte a um monte onde costumeiramente se abatia condenados à morte. Me detive com a faca e o abacate na mão e comecei a acompanhar o espetáculo. Eram três delinquentes a ser açoitados pela via, cada um levando uma pesada cruz, eram seguidos por vários espectadores que se deliciavam com o poder do império, com o cheiro do sangue e do suor que banhava a rua. Mas algo estava fora do comum, do normal daqueles shows, pois, dentre os açoitados, havia um que seguia sem parecer sofrer, sem se dar pelas chibatadas, pelas cusparadas, pelos socos e pontapés. Seria um bárbaro? Um bruxo dominador das sensações? Não o sabia bem do que se tratava àquela altura, mas todos eles foram içados em cruzes, e o tal valentão ficou no meio, insensível as dores, e ainda dialogava com os seus comparsas, também crucificados, mas, diferente dele, os outros mal se aguentavam, gemiam como crianças, o que era o esperado por todos que ali se davam ao lazer, mas aquele, o do meio, era um tal que se dizia deus, que atrapalhava os negócios e iludia muitos retardados, com magias e coisas que iam contra os costumes e que até na hora da sua morte ele inculcava a todos que ali estavam, inclusive eu, que ao ficar vendo-o, sem o poder ouvir, esperando o esplendido momento em que a lança adentraria lhe o peito, o olhava e cortava o meu abacate, e sem me dar, deitei o caroço boca adentro, e por alguns segundos ele parou em minha garganta, um amigo me deu uma porrada nas costas e o expulsei, mas ainda hoje, nesse instante de vida, o sinto, como um caroço em minha garganta, e ele me incomoda, e mais ainda, em todas as vezes que me deparo com injustiças, de forma que as vezes penso que aquele ‘bárbaro’ era um justo, defrontado e destruído pelo sabor do poder do espetáculo, da organização do bando humano que se alimenta da dor, do sangue e do suor de seu semelhante.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A origem do mistério.

O mistério chegou ao mundo
despido,
nu,
feito recém nascido,
depois o foram cobrindo,
aos pouquinhos,
até ele se tornar um desconhecido.


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Semeion

Por entre os dias,
imerso em sensações, sublimando,
sou um corpo terra e mar,
tenho todas as estações.

Em mim há fauna se aflora,
e os climas e lugares são feito sentimentos,
cíclicos movimentos, que velam-se em si,
camuflam-se feito néctar numa semente de flor em potencia.

Voam as intenções,
feito  pólen ejaculado
no desvario dos ventos
que flamejam o cerrado.

E verão folhas por nuvens no verão,
nas águas que mudam as cores
avermelhadas na vastidão de um sol posto
e a verdejada se desperta em ser o que outrora era.







segunda-feira, 14 de maio de 2018

Ponto cruz

Andei pensando em cantos novos
sob velhas arvores encontrei jovens sombras
renascidas sob a grande luz do dia,
de novos velhos que se reciclam em afazeres férreos,
feito a inconsciência do cotidiano que nos automortizam
em arvores ambulantes, em pedras racionais, em ciclos de tristezas mútuas, em tolas mulas.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Imaginação

A esperança flore no jardim dos sofrimentos
e toda vida se espalha como polem de jasmim,
sob a luz que rompe obscuro esquecimento.

A clareza se solidifica feito tapete à realeza
que sem delongas eleva o olhar e alcança a escada para o altar
de onde se contempla campos de real beleza.

Um pássaro sorri, feito anjo alado,
e seu cântico é o amor que faz pulsar o coração,
toda lágrima é um botão de rosa dourado.

domingo, 6 de março de 2016

In-fluência

As ondas vem
e se borboletam em brisa,
se desmanchando no crepúsculo,
de uma tarde que se esvazia.

Os teus olhos longínquos,
brilham feito um sol,
um sol que se abrandou no mar
indizível de um céu azul.

E para além da cordilheira
sou um átomo que flui solitário
na silenciosa fonte das energias
que se cruzam em paradoxos.